[RESENHA] ‘Sou Fã! E Agora?’, de Frini Georgakopoulos | Como Você Conversa Com Os Livros Que Lê?

Imagem retangular de fundo azul claro, com um bloco no centro. Nesse bloco, vê-se a capa do livro resenhado no post, e, embaixo, os dizeres: "Resenha. Sou fã! E agora?".
Muito complicada essa vida de ter que fazer arte pros artigos do blog, viu. Apreciem meu esforço!


Olá, fanfimores! Tuuudo bom? Espero que sim, viu. A resenha de hoje…! Está atrasada há mais de um ano.

É… é.

É.

Bom, deixando isso de lado, o post fala de um livro que gostei bastante; até mesmo favoritei no Skoob. Façam-se confortáveis e preparem-se, que o papo é de fã pra fã. Segue o fio, fanfiqueiro!


Informações sobre o livro

Sou Fã! E Agora? é um livro de não ficção da jornalista e blogueira Frini Georgakopoulos. O livro foi publicado em 2016 pela Companhia das Letras, sob o selo Seguinte. Está disponível para compra em formato e-book e livro físico, no site da Cia, e na Amazon.

Frini é uma carioca com grande experiência na criação e apresentação de eventos literários; mediou eventos com diversas autoras, entre elas Cassandra Clare, Collen Hoover e Kiera Cass. Mantém o blog Cheiro de Livro e é curadora do Clube do Livro Saraiva e colunista literária da rádio Roquette Pinto (94,1 FM), conforme a informação no próprio exemplar.


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A nossa voz importa e muito. Não somos apenas muitas pessoas, de idades variadas, que amam muito alguma coisa. Somos consumidores, produtores de conteúdo, leitores, artistas, fãs e merecemos ser ouvidos e respeitados.”


O meu modelo de resenha mudou um cadinho, como notaram. Falei isso no IG do blog tempos atrás, vocês lembram? Acompanhem o AE por lá, viu, não se esqueçam. (Sério, está dando um trabalho ridículo movimentar aquela conta. Me deem biscoitos! Sou uma adm carente de mimos.)

Dito isso, o título do post já indica uma outra modificação perspicaz. Esse livro me fez repensar a forma como consumo livros, e encontrei na análise minha resposta pra questão levantada (piada não intencional). Claro que eu não estou reinventando a roda aqui; muitas outras pessoas já fazem isso que passarei a fazer a partir de agora… contudo foi apenas após a leitura desse livro que tive essa epifania. Paciência, okay? Sou lerdinha.

E se vocês achavam minhas resenhas completas, preparem-se pois elas acabaram de se tornar ainda mais hehe.


| Primeiro critério — tom e público-alvo | ★

Eu li esse livro em 2020, após longos anos lendo só fanfic atrás de fanfic… e ele também foi o primeiro livro de não-ficção falando especificamente de fandom na qual pus as mãos. Que sorte! Me lembro de ver o exemplar físico numa livraria no shopping, anos antes, e pensar: “Meu Deus, um livro profissionalmente publicado falando sobre a subcultura de fãs! Eu quero.” (Fiquei só querendo, mesmo, por falta de verbas, então obrigada por liberar o e-book, Editora Seguinte.)

Sou Fã! E Agora? é uma leitura encantadora, gente. Bem nos conformes do público a quem ele é vendido, a obra foi escrita numa linguagem coloquial, um tanto intimista, e alto-astral. Lê-lo foi como conversar com uma fangirl com mais experiência de fanficagem do que eu, porém mesmo nível de animação. Usualmente não gosto de livros que tentam se aproximar do leitor jovem com vocabulário serelepe demais, todavia esse aqui foi uma exceção aprazível.

Uma estrelinha assim, fácil, fácil.

(Off que depois desse livro eu peguei vício em ler livros sobre fandom, e minha lista de desejos na Amazon não esconde essa fanfiqueira realidade. Frini, olha o monstrinho que você criou!)


| Segundo critério — temas abordados | ★

Apesar disso, acho que quem se beneficiaria mais seriam os fãs que caíram de paraquedas nessa vida de fanficagem. Como eu sou fanfiqueira há quase dez… anos… (…Deus é mais…), muita coisa ali eu já sabia. Ler essas partes foi como ter alguém explicando pra ti algo na qual você tira de letra, sabes? Não tãããão aprazível assim, nhe.

Nenhum pecado, apesar de tudo. Tinha sua utilidade na organização do livro, mesmo que eu já conhecesse aqueles fatores. Não roubarei essa estrela da Frini porque honestamente entendo a intenção daquelas parcelas.

Outros trechos, sobretudo os em que a Frini ficou mais reflexiva, me agradaram mais; como podem observar com a existência do Anotações Esparsas, eu amo conversar sobre o aspecto psico, antropo e sociológico da subcultura de fãs. Alguns pontos levantados pela autora foram, ó… mwah. Yummy!


| Terceiro critério — a abordagem dos temas | ★

Erm… dado que eu sou cof cof chata, achei que os temas ficaram rasinhos, sabe? Muita coisa interessante sendo levantada, mas era como ela me provocar com uma questão fantropológica e depois sair correndo, me deixando com mil pensamentos. Considerando todo o livro, acredito que foi essa a intenção; colocar algumas cartas na mesa para que um leitor que não fosse fã há muito tempo, ou um que não fosse fã e tivesse se interessado pela obra, notasse como o buraco é mais embaixo quando o assunto é fandom; mas sem sobrecarregar a pessoa.

Terrível. Quem disse que eu não quero ser sobrecarregada com análises profundas sobre fanfics, ficdom e fandom?! Oras bolas. Isso é um ultraje!

(Brincadeira, Frini. Quer dizer, se você quiser…)

Então, é. Eu fiquei com água na boca, mas isso não importa! Eu não importo aqui! Frini cumpriu o objetivo do livro, então essa estrelinha também fica com ela.


| Quarto critério — prosa e organização | ★

Como eu disse anteriormente, a linguagem utilizada casa perfeitamente com a intenção do projeto; e a língua portuguesa é usada com habilidade, viu. Frini escreve muito bem por si só, porém o trabalho da equipe editorial inteira aqui foi espetacular. A estruturação do e-livro também não deixou a desejar. Tudo nos conformes, rapaziada.

Por onde anda a equipe que mexeu na redação do livro? Um beijo a toda a equipe que mexeu na redação do livro! E pro capista também; a capa dessa obra é uma gracinha. E pro diagramador, inclusive.


| Quinto critério — conexão emocional | ★

Por fim, a conexão emocional está em dia, sim. Frini me conquistou com seu estilo jovial de escrita, sua propriedade ao falar de fandoms e seu honesto amor pelo que estava depositando naquela obra. Eu até favoritei o livro! Meu Skoob não mente.

Foi bem… único pra mim ver algo que amo — fandoms — num livro, sendo ele vendido numa livraria. Inspira um senso de reconhecimento, sabes? Minha adolescência inteira foi dedicada a fandoms, em maior ou menor escala, e eles acompanharam diversas fases da minha agitada vida; meio que fazem parte de mim. E a gente sabe como atividades fannish são mal vistas pelas pessoas que não fazem parte do meio. A gente sabe, hm…

Até melhorou de uns anos pra cá, porém não é em todo lugar que você pode chegar e dizer que escreve fanfics nas horas vagas sem alguém falar que é “coisa de criança”, “perda de tempo” por não ser escrita profissional ou acadêmica; ou chegar e dizer que você é k-popper, e ficar sem ouvir gracinhas do tipo “e você vê diferença entre os membros?”, ou “não tem mais nada o que fazer na vida, não?”; entre outras situações desconfortáveis.

Como uma pessoa que cresceu acreditando que se algo é publicado, então tem alguma credibilidade, encontrar esse livro me trouxe imensa felicidade. E ela só aumentou quando li e vi o carinho com a qual a Frini tratou o assunto.

Frini, entre na minha casa e escreva para toda a minha família!


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Imagem retangular vertical, com fundo verde-água, mias detalhes vermelhos. No centro, um bloco de cor lilás, que abriga os dizeres: "Como você conversa com os livros que lê?", além de detalhes da capa do livro resenhado.
Espero que ninguém ache que estou ficando doida de tanta autoquarentena e realmente conversando com os livros...


“Okay, Mira, você é uma emocionada entusiasta de ciências sociais. Entendi. O que mais?” Muito que bem, estimado fanfimor — abaixo segue minha tentativa de conversar com esse livro. A partir de agora buscarei sempre trazer uma relação dos livros lidos com o ficdom e as fanfics. Gotta follow my blog’s motto, am I right?

(O esqueleto original desse post tinha uns sete tópicos nessa seção; por favor me elogiem por ter noção e passar a tesoura nisso aqui. Sabem como é difícil pra mim ser breve?! Humpf. Vocês não me valorizam o suficiente!)


Ler o livro me fez pensar… como fazer valer toda a atenção e carinho que o autor deposita na obra dele?

Certamente não sou a primeira a pensar em como os escritores dão muito de seu tempo para entregar um livro bom, e nós, leitores, usamos de apenas algumas horas para terminar tudo. Às vezes o autor doou o equivalente a anos de sua vida… e a gente leu a obra em, sei lá, catorze horas? É peculiar, viu.

Aí entram as resenhas — perfeitamente válidas em si, e não entrarei na discussão de se é “o mínimo”, por parte do leitor, resenhar a obra; mas, sim, resenhas. Maravilhosas! Gosto muito delas.

Bom. Eu poderia me ater a elas, porém a ideia não sentou muito bem comigo… resenha é uma conversa do leitor para outro leitor, e não do leitor com a obra. Seria insatisfatório pra mim, então decidi usar esse espaço no AE pra falar com o leitor sobre os temas da obra, e não apenas da obra; me jogar de cabeça na mensagem que o autor quer passar, sabe?

Alguns argumentarão que as resenhas são exatamente isso, e pode até ser — exceto que, na minha percepção, não é. Pra mim, resenhar não significa necessariamente ponderar profundamente sobre os assuntos levantados pela obra em questão, mas é exatamente isso o que quero fazer daqui em diante.

Claro, não será com todos os livros que eu ler; e claro, serão artigos dificílimos de terminar. Entretanto é a ideia que mais me agrada, e, pra mim, é o máximo e o mínimo que eu posso fazer pra responder, à altura, os livros que me marcarem de alguma forma. Sou Fã! E Agora? foi um que me deu coragem pra tratar das minhas leituras com essa seriedade, e espero fazer um bom trabalho com isso. Obrigada pela reflexão, Frini!


Para os fanfiqueiros, o que importa é que… o ficdom é importante e sua relevância na vida dos fanfiqueiros precisa ser respeitada

Disse, digo e direi: o Anotações Esparsas é um espaço por, e para, fanfiqueiros. E é um espaço onde vocês sempre — sempre — me verão defendendo a importância do fandom, do ficdom, das fanfics; defendendo sua validez, seu impacto, sua presença. Porque tem. As fanfics têm tudo isso.

Fanfic é brincadeira, e justamente por isso merece ser respeitada.

Sim, você leu isso corretamente. Fanfic é brincadeira. O que mais poderia ser? O ficdom é um espaço feito para quem quer experimentar de tudo, inclusive escrever sem pressão de ir bem. Ninguém aqui é obrigado a escrever bem, a procurar melhorar sua escrita; a única regra real do ficdom é divertir-se. Desde o momento que parou de divertir, está na hora de cessar; e desde o momento que está te divertindo, é válido. É aí que deve morar a ferida dos antis, pois como assim alguém se atreve a escrever por diversão, e não para publicação profissional?! Que absurdo!

Sociologicamente falando, averiguamos que o ficdom (não só o brasileiro) é um espaço onde prevalecem as mulheres e os grupos marginalizados, sobretudo indivíduos aquileanos, seguido de indivíduos sáficos, indivíduos transgênero e indivíduos não-brancos; e então, com relativo menor vigor*, todos os outros indivíduos partes das inúmeras minorias existentes. Sabe o que isso tem cara? Tem cara de pesadelo pro capitalismo, que prega em transformar absolutamente tudo em fonte de lucro, e pros homens cisgênero heterossexuais incels, que, bem… existem, né. Tanto é que o que você mais vê é gente desmerecendo as fanfics por 1) ser obra derivativa sem fins rentáveis (que é onde entra o argumento de “pra que perder tempo com fanfics se você pode escrever originais e vender?”, ad infinitum), e por 2) ser local pra tudo aquilo que nossa maravilhosa sociedade odeia que os oprimidos tenha (liberdade de expressão, espaço para se descobrir, ambiente para formar comunidades de pessoas de mentalidades semelhantes, uma forma de se divertir). Nesse último caso, a treta está em ser um espaço que, pasmem!, não é dominado por homens brancos cisgênero heterossexuais, o que é uma tragédia pra eles, coitados. Uma esfera dominada por marginalizados? Que blasfêmia!

E eu estou transformando isso em política… porque é política. Escrita é política, e embora as fanfics estejam numa casinha diferente da escrita profissional, o espaço que elas criam — isso é, o ficdom — tem importância política. A importância reside no ficdom ser inclusivo e inerentemente anticapitalista; dois aspectos que, sem precisar pensar muito, incomodam horrores. Falo tudo isso com extrema seriedade: ficariam surpresos de descobrir como a negação da diversão, sobretudo para grupos marginalizados, está relacionada com o capitalismo… mas não falemos sobre isso! …Hoje, ao menos, cof cof.

Voltando ao meu ponto: fanfic é brincadeira, e justamente por ser brincadeira que tem que ser levada a sério. É uma forma de lazer que traz identificação, conforto, paz e felicidade a milhões, e isso nada, nem ninguém, vai tirar da gente. Tudo o que trouxer felicidade a uma pessoa, desde que não constitua um crime, deve ser honestamente respeitado.

Mesmo que não entendam porque “perdemos tempo” com fanfics “em vez” de escrever originais; mesmo que não processem a razão pela qual ficamos “tão animados” com um “mero” ship ficcional; mesmo que não compreendam a motivação por trás do nosso júbilo em manter contato com alguém do fandom “só” pra trocar headcanons… fanfics são válidas, oras.

O ficdom tem importância porque damos importância a ele. E isso é tudo o que nós precisamos pra ter certeza, e o tudo o que os de fora precisam de informação. Afinal, você não precisa entender para respeitar. Só precisa de bom senso.

Disso todos são capazes, não?

* Quando eu disse “menor vigor”, não quis dizer que definitivamente tem mais pessoas aquileanas, sáficas, transgênero e não-brancas que o resto das minorias; contudo, esses primeiros são os que mais marcam presença por essas bandas. Com certeza tem mais grupos, só que eles são quietinhos.


Conclusão

Leiam esse livro. Leiam, leiam, leiam! 10/10.



Como melhor saberão, eu venho lendo bastante em 2021. Hooray! Quero dedicar essa vitória à minha mãe, que me amou e cuidou e protegeu e—

Ahem. Dito isso, era pra ter muita resenha rolando por aqui, né? É. Era. Mas não vai, e isso eu explico em dezembro. E quando rolar, resenha será no formato da de hoje; reflexivo e ligeiramente apaixonado… o que posso fazer? É meu jeitinho.

Cês gostaram? Modéstia parte, eu me agradei. Ficar embelezando as coisas não é meu forte porque eu tenho o senso estético de uma toupeira nariz de estrela, porém fiz meu melhor. Espero que tenham gostado! Estou contente de finalmente publicar esse artigo, também. Anseio tê-los feito pensar, pelo menos um pouco, sobre como vocês tratam suas leituras.

Sem mais delongas, vou fechar as coisas por aqui; como sempre, o AE está no Twitter, Curious Cat e Instagram (onde, aliás, eu tenho postado um bocado, então confiram os conteúdos por lá também!). Você pode inscrever seu e-mail no box nas redondezas desse post para não perder nada de novo, e deixar um comentário aqui embaixo se sentir-se excepcionalmente social hoje.

Até o próximo olá, ficdom!


Os textos publicados no Anotações Esparsas são de total autoria dos administradores e colunistas, exceto quando anunciado o contrário. É proibida a reprodução sem permissão, parcial ou completa, de nosso conteúdo.


E você? Já leu Sou Fã! E Agora? O que acha da discussão que eu trouxe hoje? Me conta!

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