(Suposto) Decálogo do Perfeito Fanfiqueiro

Imagem retangular horizontal, bicolor. Uma linha diagonal divide o retângulo em dois triângulos, e um é azul e o outro é branco com detalhes em cinza claro. No centro, o título do artigo: "Suposto decálogo do perfeito fanfiqueiro".


Eu culpo minha mania de complicar tudo à frequência ínfima de posts sobre fanfics e fanfiqueiros num blog sobre, bem… fanfics e fanfiqueiros. Afinal, pra que escrever posts fáceis se posso atirar no meu pé e publicar guias de escrita? Joyous!

Em outras notas — olá, fanfimor, tudo bom? Por aqui tá tudo joia, pois o artigo de hoje é uma lista. E o que melhor que uma lista para alegrar essa cinzenta quarta-feira brasileira? Uma lista inspirada na lista de Horácio Quiroga, mas é claro.

Portanto, se liga nos talvez, quem sabe dez mandamentos do imaculado fanfiqueiro. Segue o fio!



Os dez mandamentos que você (não) é obrigado a seguir

· · • • • ✤ • • • · ·


1 | Crê na importância de apoiar seu fanfiqueiro favorito, mesmo que com “pouco”.

Vejo muitos fanfiqueiros comentando que se sentem acanhados em demonstrar apreço pelo fanwork que alguém produz, e enquanto eu ouvir isso, vou gritar que você não precisa sentir-se assim. Asseguro-lhe asseguro que toooodos os fanfimores adorarão qualquer surto, qualquer mínima menção de que você prestou atenção no que eles presentearam aos fãs.

Você não precisa devolver o edit, a fanfic, etc, na mesma moeda; não precisa deixar um comentário elaborado, com cara de resenha de um NYT Bestseller; não precisa dar seu dinheiro, sua alma, seus cactos e suculentas… precisa de nada demais.

Apenas deixe claro que gostou.

Pode ser tão simples como deixar uma curtida ou um favorito na publicação, ou até mesmo comentar com algum meme ou emoji. Você pode ser mais elaborado que isso, mas não é obrigado; e se você não for mais elaborado que isso, também não é ruim.

Criadores são seres simples, pessoal. A gente gosta de qualquer carinho. A gente precisa de carinho. Da mesma forma que não há pressão alguma pra você ser extenso em seu apoio, devemos reconhecer que, se você deixar de perceptivelmente apoiar por introvertimento ou medo, isso acarretará consequências. Cada “eu amei isso aqui!” pesa positivamente para incentivar os fanfimores a continuar presenteando os fandoms.

Nunca subestime a importância de deixar claro como o céu do meio dia que você gosta do que fulano tá criando. Igualmente, não subestime a relevância do seu apoio em específico.

(Vou contar um segredo: ficwriters amam constância. Mesmo que você seja uma criaturinha de poucas palavras, se você nunca perde uma chance de enaltecer a obra do escritor em questão… tem muitas chances de você ser o leitor favorito desse escritor. Quer incentivo maior que esse?)

Seja fã dos fanfiqueiros que você consome! Certamente todos aqui são craques em ser fã, não é?


Pit stop da leitura recomendada! Para quem quiser aprender a formar comentários elaborados, ou só quiser uma colinha singela e efetiva pra depositar na seção de comentários alheias, favor conferir os artigos: Como Não Comentar Numa Fanfic, da Boo do website Feitos de Palavras, e Afinal, Como Comentar Numa Fanfic?, da Mira do website Anotações Esparsas (também conhecida como eu).


2 | Não te esqueças que fanfic é diversão, não responsabilidade — mas que precisas ter responsabilidade em meio à diversão.

Fanfic é brincadeira, ponto final. Nem por isso deixa de ser importante, e justamente por isso é importante; assim como toda fonte de lazer o é. Sendo assim, a máxima que pregamos aqui no AE é a de que, enquanto estiver te divertindo, é válido — e quando deixar de alegrar, está na hora de abandonar.

Dito isso, vivemos numa era de hipersensibilidade na internet… e o efeito disso, no ficdom, é uma tensão quanto ao que é “aceitável” e quanto ao que não é. Honestamente, eu ainda não estudei ou refleti o suficiente sobre o assunto pra ter uma opinião completa formada. Quem tem direito de dizer o que os ficwriters podem, ou não, escrever? Quem dita o limite dos temas explorados e das mensagens transmitidas? Até aonde vai a responsabilidade do ficwriter em relação à sua obra? Ela é igual à do autor profissionalmente publicado? Se difere? É justo comparar o monitoramento quase que obsessivo que ocorre hoje em dia à censura de regimes absolutistas?

Esse é um assunto extenso que merece um artigo à parte, e não um breve tópico numa lista superficial. O que posso entregar hoje é o conselho de fazer o mínimo; plantar seu trigo a tempo de sobreviver à provável tempestade. Em outras palavras: nunca deixem de tagguear e categorizar suas fics corretamente.

Sim, querendo apontar dedos, e já apontando — o povo na web não sabe mais reconhecer os limites das coisas. Cada um tem seu direito, tem seu dever; tem coisas que pode exigir, e tem coisas que não pode. Mais importantemente, tem coisas sobre a qual pode ralhar, e coisas sobre a qual não pode.

Se você olha pra descrição de uma fanfic e infere que ela trata de tópicos que não te agradam, e aí olha as tags e vê mais tópicos que não te agradam… porque você diz que está ‘ciente’ e ‘aceita visualizar aquela história’ mesmo assim? Será que essas pessoas compreendem que isso se chama consentimento?


Print do aviso de conteúdo +18 no website Social Spirit.


Você viu os avisos, viu as tags, viu a súplica do ficwriter nas notas iniciais — e mesmo assim leu a fic. Leu após concordar que tava tudo bem a fic ter tudo aquilo.

Isso, meu caro, que é o consentimento.

Sendo assim, quantos não são os leitores que fazem isso e ainda assim perturbam a paz dos ficwriters, o que, nos piores casos, acaba até em cyberbullying? (Que é crime, conforme a Lei Nº 13.185, de 06 de novembro de 2015. Sempre vale a pena frisar, né?)

Novamente, esse tópico aqui não é pra discutir se os ficwriters podem ou não escrever certas coisas, mas pra avisar que, independentemente do que o leitor pensa, desde o momento que ele consentiu ler aquela fanfic, o escritor pode chegar e falar: “Ué, mas se você sabia que ia ter X coisa ali, e você sabe que não gosta disso, porque leu mesmo assim?”

E ele estará na razão dele.

Por isso aconselho que muna suas fanfics de avisos. Fará um favor para o leitor que realmente não lê esse tipo de coisa, e terá um argumento contra os monitores incansáveis do ficdom.

(Considerando a atualidade, ainda alego que é responsabilidade de qualquer um que publica qualquer coisa colocar aviso sobre conteúdo potencialmente engatilhador e/ou +18. Sejamos todos fanfiqueiros responsáveis, sim?)


3 | Resiste o quanto puderes do plágio; inspirar-se não é roubar.

Gostaria de dizer que todo mundo sabe que não pode plagiar, mas a verdade é que já não tenho tanta certeza que isso é verídico. Por via das dúvidas, serei didática: plágio nunca é justificável, e podemos plagiar mesmo quando não queremos.

“Tá, Mira, você bebeu e decidiu que escrever pro blog seria uma boa ideia. Entendi.” Não, não estou falando abobrinhas. Quando consumimos uma mídia que nos impressiona e temos vontade de escrever ‘inspirado’ naquilo, é usual que regurgitemos narrativas. Não deixa de ser plágio, mas também não foi por querer, compreende? Portanto, minha sugestão é que você espere.

Quando a vontade assim chegar, não publique. Deixe a ideia amadurecer. Depois de algumas semanas notará que aquela ideia é, na verdade, desconfortavelmente parecida com o que você viu na TV, ou que ela nem é tão interessante assim. Nada de ruim nisso; independentemente do que ocorrer, servirá para que você trabalhe em obras mais originais, e, mais importante, divertidas pra você.

Muitos sugerem que nos cerquemos de mídias variadas para alimentar nossa criatividade. E isso não é só dizer pra assistir filmes de fantasia, ler livros de fantasia, finalizar HQs de fantasia, etc; mas quer dizer para lermos livros de ficção em vários gêneros (até não-ficção), para assistir filmes, séries e documentários, para ouvirmos músicas do tipo que estamos acostumados e do tipo que não estamos, para ler fanfics do nosso fandom e do fandom ao lado, para… bom, você entendeu.

O efeito disso é que você vai se impressionar com muitas coisas diferentes, e, inevitavelmente, roubará um pedacinho de cada uma.

“Mas espera!”, você brada. E, antes que continue sua exclamação, te sano a dúvida: sim, roubar.

A lógica está na estranheza. Se você se impressionar com uma obra só, vai imitar ela. Se impressionar-se com várias obras, ninguém saberá de onde tirou os pedacinhos de roupa na hora de juntar os retalhos. Seria da fofoca que sua amiga te contou semana passada? Do tema de um filme bem-intencionado, entretanto mal executado? De um trecho tão bem escrito que até hoje você não acredita que veio de uma crackfic? Nunca saberemos.

Aí, meu bem, nós catamos os caquinhos do chão de informações adquiridas e escolhemos os mais bonitos. Montamos aquele quebra-cabeça doido, fazemos careta, desenhamos peças nossas — pedaços de nossa vida, de nossos valores, de nossa mensagem pro mundo —, enfiamos nos buracos, e, por fim, acabamos com uma fanfic que é nossa.

Não roube de um. Roube de muitos. Não será efetivamente plágio, será apenas mais um dia na vida do artista, mesmo.

Agora, quanto aos casos de plágio intencional… não. Só não.

Não plagie. Nunca. Confie em sua pessoa; você pode escrever tão bem quanto fulano, pode ter uma fanfic de sucesso como beltrano, pode publicar uma obra sua sobre Y assunto como ciclano.

Toda vez que imita alguém, se impede de descobrir aquilo que só você é capaz de trazer pro ficdom. Cada fanfiqueiro é amálgama de inúmeros fatores que o torna único como pessoa, e essa singularidade sempre será sua maior arma. Podem existir (e, de fato, existem) mil fanfics sobre um assunto, mas ainda tem espaço pra sua. Tem sim, acredita em mim.

E sabe porque? Porque se você der seu melhor, ela vai sair de um jeito que só você pode escrever. E é isso o que o seu público-alvo quer. Algo seu.

Quem mais pode publicar algo que é a sua cara senão você, fanfimor?


4 | Tê fé cega no amor pela fanficagem, e não nas estatísticas das fanfics.

Já papeei extensivamente quanto à insegurança na escrita — nos artigos Ficdom, Vamos Falar de Insegurança Na Escrita – Parte I & Parte II —, todavia a memorização vem através da repetição. Nas boas palavras daquela bruxa do Pica-pau: “E lá vamos nós…”

Fandom é feito pra diversão. Ficdom é feito pra divertir.

Veja bem; tudo bem você querer ser reconhecido no ficdom, porém não torne essa a sua única motivação para estar aqui. Tente acreditar quando digo que grandes números de visualização e interação numa fanfic não são tão importantes quanto você pensa.

Se sua entrada no mundo das fanfics foi à procura de escapismo, pertencimento ou qualquer coisa do gênero, e, no meio do caminho, você se perdeu na ansiedade de conquistar mais e mais leitores — calma. Respira. Foca no agora, foque aqui. Repita: “Estou aqui por diversão. Se estiver me divertindo, tudo bem. Se não estiver, é hora de parar.” E realmente pare!

Ponha no papel o que te incomoda atualmente, o que você pode fazer pra amenizar ou solucionar isso, e lembretes saudáveis que você precisa recordar-se a todo momento. Se precisar, afaste-se do ficdom e dedique-se a outro hobby por um tempo. Volte quando não houver mais peso no ombro.

Ainda que leve meses ou anos.

Se sua entrada foi para aprimorar sua escrita para publicação, ou até mesmo começou como a situação anterior mas desenrolou-se em vontade de profissionalizar, então lembre-se que mesmo nosso trabalho não pode ser somente estresse.

Abrirei parênteses aqui. Na psicologia dividimos o estresse em eustresse e distresse. O ‘eustresse’ é um “estresse positivo”, sendo o ‘distresse’ seu antônimo. Insegurança faz parte da vida do artista, nada vai tirar ela da gente — e se alguém te prometer solução mágica pra ela, corre que é cilada! A chave está em fazer as coisas com medo mesmo.

Tal fato aplica-se ao ficdom. É superválido usar as fanfics pra praticar a escrita, desenvolver a própria voz artística e mais uma cambada de aspectos; só não deixe que seu medo de “fazer errado”, e, especificamente sobre o tópico em mãos, de ter esse trabalho “à toa” porque “não tem retorno”, te impeça de concretizar seu sonho.

Estressante, sem dúvidas, vai ser (o nível de estresse na fanficagem aumenta conforme o comprometimento do ficwriter de escrever objetivamente bem), mas uma coisa é você estar tenso pois sente-se desafiado, e outra é estar infeliz com o quanto tudo parece dar errado com seu projeto.

Tanto amargor vale a pena mesmo? Você está do jeito que está porque é assim que as coisas são, ou porque você tem dificultado sua vida?

Aqui vão verdades difíceis de engolir:

  • Sua fanfic não tem que ser boa. Muitas não são. E daí se não? Olhe honestamente pra sua fic — acha ela ruim? Talvez ela seja. Não tem problema, enquanto você não desistir haverá conserto (e isso se quiser consertar; afinal, você tem direito de deixar do jeito que está). Talvez ela não seja. Não tem problema também, bom pra ti. Independentemente da verdade do teu caso, não há razão pra desespero. Respire fundo, acalme-se. No fim do dia é só fanfic, cara. Estamos no ficdom. Divirta-se!

  • Você é responsável pelo seu próprio bem-estar. Caso sua obra esteja te afetando negativamente, cabe a você, e somente a você, lidar com isso. O máximo que vai achar nos outros é conselho — e o meu está aqui. Afaste-se. Passe um tempo longe dela, capriche no autocuidado, reveja seus conceitos, valores, metas. Faça esforço ativo em prol da sua saúde mental, porque ninguém fará no seu lugar.

  • Não importa o que sua insegurança diga, se te deixa feliz então basta. Fanfic nenhuma é “trabalho à toa” se você estiver contente fanficando ela. Você não precisa ser um fanfiqueiro famosinho, não precisa superar a si mesmo, não precisa… de mais nada. Você tem poucas visualizações? E daí?! Poucos comentários, favoritos, recomendações? Dane-se! Tudo é secundário diante do propósito do ficdom.

Você não precisa de uma fanfic boa. Se ela for, bem; se não for, bem também. Mas necessidade? Não há. Não disso.

(E, como bem sabe, números grandes nunca foram indicadores infalíveis de qualidade em primeiro lugar…)

Fanfique, mas principalmente porque você quer, e gosta, de fanficar. Com isso nos eixos, todo o mais se encaixa onde deve.


Pit stop da leitura recomendada! Lembrando que temos os artigos Ficdom, Vamos Falar de Insegurança Na Escrita – Parte I & Parte II, viu. Já deixa o link aberto pra ler assim que acabar o post de agora ♡


5 | Não publiques um comentário que não exagera no carinho e cuidado.

Enquanto o Blogger existir, você me verá resmungar sobre etiqueta na seção de comentários das fanfics. Afortunadamente, nós já temos posts nessa temática — Como Não Comentar Nas Fanfics, da Boo do blog Feitos de Palavras, e Afinal, O Que Comentar Nas Fanfics?, post meu. (Falando deles de novo para caso você não tenha aberto os links mais acima no post de hoje. Como ousa!? Vá ler os posts! Humpf.) Como sou boazinha, vou resumir a mensagem abaixo.

Todo comentário que você fizer na vida, mas principalmente os que fizer em fanfics, precisa ser tecido com amor. Mesmo as críticas construtivas mais severas não podem faltar com isso.

Comentar conscientemente é hábito. Dá pra desenvolver. Exige que você aprenda a organizar seus pensamentos, e que pense antes de postar seu textinho (algo que muito raro hoje em dia, viu); e para os fanfiqueiros acostumados a surtar, eu incluída, será difícil.

É difícil, mas não impossível.

Nos comentários de panfletagem, enaltecimento e surto (na conotação positiva da palavra) esse filtro é até que opcional; porém nos comentários mais extensos e não tão alegres, não deixe de parar e se perguntar:

  1. Esse comentário é necessário? · Lembre-se que nem todo ficwriter pede por concrit, e devemos respeitar isso. E se você discorda da regra, você que lute;

  2. Esse comentário é útil? · Críticas são desagradáveis por natureza, mas isso não as isenta da sua importância para quem quer crescer. Apesar disso, existem críticas e críticas, né. O comentário que você digitou só reclama da fic? Ou, pior!, ataca o autor de alguma forma? Se sim, apaga tudo e faz de novo. Se não der pra refazer, poste nada. Simples assim. Todavia, se o comentário não for assim…

  3. Esse comentário é cauteloso? · Com ‘cauteloso’ eu não estou te dizendo pra açucarar suas críticas ao ponto do texto tornar-se falso, beirando babação de ovo. Calma lá! Honestidade é crucial, inclusive nas mais duras críticas — mas você pode, sim, tecer uma crítica articulada de tal forma que não magoe o ficwriter. Lembre-se sempre de falar da obra: diga o quê te desagradou na fic, porque desagradou e, se possível, como o ficwriter pode consertar esse erro. (E se, ainda assim, o ficwriter ficar magoado… aí já são outros quinhentos. Sua parte você fez.)

Após ler os artigos recomendados no começo desse tópico, e mantendo os conselhos acima, é certo que uma experiência vibrante no ficdom te aguarda!


Imagem retangular vertical, de fundo azul com padrões de bolhas divertidas. No centro, um box cinza, enquadrando o título do post: "Suposto decálogo do perfeito fanfiqueiro".


6 | Não precisas entender para respeitar, e ninguém lhe deve explicações sobre os próprios gostos.

O argumento é de fácil compreensão: você pode respeitar o “gosto estranho” do coleguinha mesmo que não entenda como alguém consegue gostar de determinado conceito. O mundo é cheeeeio de pessoas — sério, é de travar a mente —, meu anjo. Tem gosto pra tudo. Pra tudo.

Aí te pergunto:

  • O quê você ganha monitorando os gostos e hobbies alheios?

  • Quem é você pra monitorar os gostos e hobbies alheios?

Duas questões de extrema relevância, e de inversamente proporcional difusão da prática.

Claro, me refiro ao ficdom. Isso significa que as afirmações desse tópico desconsideram hábitos verdadeiramente problemáticos (ex.: consumir pornô, praticar cyberbullying, etc). Vivemos em tempos sombrios em que o óbvio precisa ser esclarecido, olha… nada de distorcer minhas palavras, viu?

De volta ao meu uniforme de fanfiqueira: deixa os fanfimores com “gostos peculiares” pra lá, fi! Cabe a cada um refletir sobre suas próprias preferências, ânsias e costumes; e a mais ninguém. Você pode, sim, promover um debate saudável sobre determinado tópico que considere problemático — a caráter de exemplo, ês fanfiqueires trans que criticam uma observada inerente transfobia no ômegaverse devido ao mpreg com homens cis* —, mas apontar o dedinho na cara virtual de alguém? Nada disso.

Desde que os “gostos peculiares” do colega mantenham-se ficcionais, que mal há? E não, cutucar você porque “o assunto da fanfic é problemático” não conta.

Eu entendo, de verdade. Por exemplo, algo que me incomoda muito é saber que tem gente que se diverte lendo histórias com cenas de estupro explícitas. Não entra na minha cabeça como um indivíduo assim dorme com tranquilidade. Isso justifica que eu desrespeite a pessoa? Não.

Cabe a mim, Pessoa Incomodada™, ou me contentar, ou argumentar com serenidade. Vou nos meus espaços — meu blog, meu Twitter, meu Tumblr, ad infinitum —, falo o que penso, e espero pelo melhor.

Retaliação não é uma opção.

Respeite o colega fanfiqueiro. O que ele gosta ou deixa de gostar é problema dele, e a forma como você reage aos gostos dele é problema seu.


Obs: Adiciono que estou falando do ficdom. Reino das fanfictions. Publicação e consumo de mídias ficcionais… questionáveis profissionais já são outros quinhentos. Quinhentos que eu ainda não meditei sobre, e, portanto, não me atrevo a assinar embaixo com o texto acima.


* Essa questão do ômegaverse me fascina. Coloquei ali “[…] uma observada transfobia […]” porque não são todes ês fanfiqueires trans que veem transfobia inerente no ômegaverse, assim como ainda não estudei a história desse universo pra dizer que é ‘inerente’.

Tenho a intenção de falar disso, e pra tal disponibilizei um formulário especificamente para fanfiqueires trans. Se chama O Que Ês Fanfiqueires Trans Realmente Pensam do Ômegaverse?. Quem for cis me ajuda divulgando o formulário!


7 | Não trates fanfic como um produto, dado que são presentes. Irreverentes serão quantas cobranças fizerdes a qualquer ficwriter.

O relacionamento entre os fãs consumidores de fanwork e os fãs produtores de fanwork é uma troca. Uma troca de presentes.

Sério, o que mais tenho a dizer? Não há espaço para cobranças dentro do ficdom. Sob hipótese alguma alguém terá direito de exigir produção de conteúdo, simplesmente porque não. Tem. Lógica!

Se mesmo no mercado profissional não podemos deixar de lado a humanidade ao requerer, então imagina no ficdom? Um local onde são publicadas histórias numa área cinza da legalidade, muitas vezes com qualidade profissional, porém ainda assim feitas puramente por querer?

E não, seu feedback não é moeda. Você “dar o que os ficwriters tanto pedem” não te dá o direito de brigar com o autor quando ele atrasa a atualização da fic, ou de humilhá-lo por decidir abandonar um projeto que você amava. (Sim, já vi fanfiqueiro azedo a ponto de falar uma coisa dessas e achar que está arrasando. Não vejo a hora de pegar um bacharel em psicologia pra entender o que raios se passa na mente desse povo… vou te contar, hein.)

Seu feedback é parcela integral da dinâmica no ficdom, porém nunca no patamar de te dar direito de tratar o ficwriter como alguém que não merece respeito e compreensão.

Nem seu dinheiro te torna essa pessoa! No mercado editorial você tem a obrigação de agir com civilidade, sim. Se você é incapaz disso, então prefiro que nem tome parte da comunidade de leitores e da comunidade das fanfics.

Não fará falta.


8 | Não te entristeças com a quantidade aparentemente infindável de “regras” de escrita, porque, diferentemente da legislação, não nos é obrigado submetermo-nos a elas.

Sim, você leu isso num blog que publica dicas de escrita — por mais risível que soe. Não existe regra de escrita! Nem mesmo precisar de palavras você precisa; afinal, existe linguagem não verbal, incluindo histórias contadas com símbolos e imagens…

O que você vê em websites como o Anotações Esparsas, Ficção Em Tópicos, Liga dos Betas, etc, são conselhos. Ignorá-los não é pecado, te garanto.

No entanto, é preciso o que a revisora Camila, do IG @camilarevisa, sempre diz: intencionalidade. Porque seguir tal dica seria benéfico pra você e sua escrita? Porque seria maléfico? Avalie antes de tomar qualquer decisão criativa, e agarre-se a essa decisão. Quem sabe o que é melhor pras suas histórias é você.

(E quem bradar o contrário está errado. Confia na tia, sei o que digo.)


9 | Apesar disso, não publiques teus rascunhos sob o império da emoção. Dê valor ao tempo que dedicastes às tuas obras, e tenha o mínimo de capricho com o que escreves — não para agradares os outros, mas para agradares teu futuro eu.

Eu poderia brincar e dizer que toda regra tem exceção, até a exceção de que não existe regra… mas não, esse nono tópico não é uma regra. É mais um conselho.

Todavia, um excelente conselho.

Num piscar de olhos passaram-se cinco anos, e aprendemos mil coisas novas, abandonamos mil velhos aspectos e estamos com mais mil filosofias em germinação. Pense no que você produzia cinco anos atrás: textos, edições de imagem, vídeos, historietas em quadrinho, caligrafia, o que for.

Você melhorou exponencialmente de lá pra cá, certo? (Sim. Melhorou sim.)

Com as fanfics não é/será, diferente. Mesmo que você escreva pouco, inevitavelmente aprimorará sua escrita através do desenvolvimento da sua pessoa e do hábito da leitura. Seu domínio sobre a língua brasileira alcançará outro patamar, as ideias que você explorar nas histórias serão mais maduras e cativantes… acho dificílimo que, nesse meio tempo, você piore em vez de melhorar, viu.

Mas uma coisa é certa: o rascunho dos teus textos sempre será a pior versão deles. Portanto, especialmente se você for um ficwriter novato, não publique esses rascunhos. Eu chamei a atenção da passagem do tempo pois, caso você publique os rascunhos, tenho certeza que seu eu de daqui a cinco anos vai ressentir isso.

Não porque é “errado” publicar rascunhos, mas porque demonstra falta de capricho e autovalorização. Pensa comigo: se você se deu o trabalho de começar e terminar essa fic, porque não honra esse tempo gasto (perdido não, mas gasto) fazendo pelo menos o básico? Deixe o texto descansar pelo menos algumas horas e depois passe um olho nele. Corrija o que for gritante.

Simples.


Imagem de fundo claro, com alguns detalhes padronizados. O título lê: "3 sugestões do que fazer antes de publicar qualquer texto". As sugestões são: 1) deixar o texto descansar por ao menos um dia antes de editá-lo; 2) ler o texto em voz alta, ou murmurando; 3) sempre que possível, desmembrar parágrafos maiores que cinco linhas em parágrafos menores.


Muitos dos erros que cometemos quando rascunhamos são coisas que sabemos consertar, e por isso não há necessidade de publicar um texto mostrando eles. E também não é pra se punir por errar com “coisas tão bobas”, hein! O rascunho é o momento do erro.

Erre o que tiver que errar, porque dá pra consertar tudo — menos uma página em branco.


10 | Não penses só nos teus leitores ao embarcar em uma jornada, nem na impressão que causará tua fanfic. Escreva o que te faz feliz, e que seja esse seu único critério para continuar ou não algum projeto.

Voltando ao que eu falei no tópico quarto: fanfique porque você quer e gosta de fanficar. E isso também vale para os causos de se forçar a continuar algum projeto pra agradar outrem, e para os de deixar de trabalhar em uma fic porque acha que não haverá leitor pra ela.

Pra que isso, fanfimor? Qual o sentido?

No momento que tua obra deixar de te fazer feliz, droppa ela. Sim, ainda que ela tenha mil seguidores; ainda que seu melhor amigo ame ela; ainda que ela tenha feito parte de um momento importante da sua vida, ainda que… não importa! Penso dessa forma sobre todo tipo de arte e hobby, porém sobretudo no quesito fanfics, não há razão válida para se forçar a terminar uma que não te traz alegria.

Destaco que me refiro aos casos onde o ficwriter não gosta mais da fanfic. Estar cansado de um projeto longo e querer engavetar ele é diferente de não amar mais a peça em mãos.

Quem vai ter que sentar todo dia e encarar o cursor piscante do editor de textos, o desafio de criar algo coeso e envolvente, e todos os pormenores da vida de artista, é você. Escrever boas fanfics é difícil por si só. Você não precisa dificultar sua vida se dedicando a uma fic que sequer gostaria de escrever.

De igual forma, não se acanhe em assumir algum projeto por ser supernichado, ou por já ter sido feito mil vezes, ou qualquer outra motivação. Toda fic tem público-alvo (se você vai conseguir achar o leitor ideal pra tua fic já são outros quinhentos), inclusive a sua. E de qualquer forma, o primeiro e mais importante leitor da sua fanfic é você. Se está te agradando, porque se preocupar com o resto?

Liberte-se dos fardos.



Enfim…

Esse post é baseado no artigo Decálogo do Perfeito Contista, de Horácio Quiroga, publicado no website Revista Bula. Achei fofinho então fiz uma releitura.

Como diz minha mãe: “Se conselho fosse bom mesmo, a gente vendia” (enfim o capitalismo); então, sim, fanfimor, você pode ignorar tudo o que leu aqui e fingir que esse artigo foi um delírio coletivo. Aliás você pode fazer isso com todos os posts desse blog. Quem liga? Juro que não ficarei chateada.

Mas assim… ponderar custa tanto quanto ignorar, viu. Pensa com muito carinho nos toques que eu dei aqui, e se pá, cê tem até um insight. Will never know if ya don’t even try.


p.s.: Por via das dúvidas, reforço que tudo o que foi dito nesse post, a menos que elaborado o contrário, se refere a — e somente a — fanfics e ao ficdom, okay? Agradecida.



É isto, meu amor. Tem um post mais antigo por aqui, chamado Os 7 Pecados Capitais do Mundo das Fanfics, que publiquei quando não sabia o que estava fazendo na blogosfera. Aquele texto é… err, bom, eu era nova, sabe? E a gente precisa começar de algum lugar. Dito isso, fica aqui o lembrete de que ele existe, e que se relaciona com o post de hoje.

Espero que tenha gostado do post de hoje! Como sempre, ouça These Days da Jess Glynne— Digo, minha longfic Relíquia das Almas: O Conto da Espada (fic do fandom de Grand Chase, cujo cof-cof fandom e canon você não precisa conhecer pra ler cof-cof) está disponível no AO3, Nyah! Fanfiction e Social Spirit, sites onde você também pode me observar pondo em prática o que eu preguei hoje.

(Exceto pela parte onde reclamo da gestão de uma certa plataforma do foguinho atualmente sem cor, mas shh. Ninguém é perfeito.)

Por outro lado, o Anotações Esparsas está no Curious Cat, Instagram e Twitter, e você ainda tem a opção de inscrever seu e-mail no box para não perder futuros posts. Tá complicado mas seguimos ativos, viu?

Obrigada por ler até aqui, e até o próximo olá. Mwah, mwah!


p.s.: Não, sério, vei. Tá muito complicado. Como as pessoas conseguem dar conta de website, redes sociais, vida acadêmica, profissional, pessoal e leitora? Jesuuuus apaga a luz e desliga o geradoooor…


Os textos publicados no Anotações Esparsas são de total autoria dos administradores e colunistas, exceto quando anunciado o contrário. É proibida a reprodução sem permissão, parcial ou completa, de nosso conteúdo.


E você? Quais são seus dez mandamentos para um perfeito fanfiqueiro? Concorda comigo? Discorda? Me conta!

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