Entrevistamos Jana Bianchi!


Iaê, rapaziada! Como vão? Espero que bem. Eu vou mais que bem—vou a-do-rá-vel (e trêmula, confessoh) com a ilustre pessoa que tomará o microfone por hoje aqui no AE. Isso porque, como bem leram no título do post, ela é nada mais, nada menos que Jana Bianchi.
Sim. Jana Bianchi está no Anotações Esparsas.
Segue o fio, você definitivamente não vai querer perder essa, fanfiqueiro.

Sobre a entrevista

Também convidada pelo administrador Carlos, a agente literária, podcaster do Curta Ficção, tradutora, editora e escritora Jana Bianchi está conosco hoje para dar sua perspectiva profissional sobre o mercado literário brasileiro.
Quatro entrevistas foram publicadas em julho no blog—partes da minissérie Ficdom Na Minha Estante!, posts organizados pela administração do AE visando trazer os holofotes para projetos dentro do ficdom cujo objetivo é fazer cópias físicas (livro impressos) de fanfics. Acreditamos que esses posts tenham instigado a curiosidade de quem deseja publicar livros originais, e, por isso, convidamos a Jana para dissertar sobre a realidade brasileira e fechar com chave-de-ouro-e-diamantes esse primeiríssimo ciclo de entrevistas no AE. É um prazer, Jana!

Informações gerais

Jana Bianchi é editora da Revista Mafagafo, escritora, tradutora e podcaster no Curta Ficção e no Desafio Ex Machina—em ambos como co-hostess. Um grandessíssimo nome no cenário editorial brasileiro, pode ser encontrada no Twitter e no seu website. Também foi vencedora do prêmio Le Blanc de Arte Sequencial, Animação e Literatura Fantástica de 2018.

Q&A com Jana Bianchi

AE: Jana, sinta-se em casa e mais que bem-vinda! É uma honra imensurável tê-la conosco! Sem delongas e pra começar bem, queremos que fale um pouco sobre você. Sabemos que é apaixonada por literatura—como surgiu este amor pelas palavras?
Oi, pessoal, tudo bem? Queria começar agradecendo o convite supercarinhoso e simpático! Sempre fico feliz quando querem me ouvir (ou ler) falar abobrinhas!
Então, sou apaixonada por literatura desde criancinha. Aprendi a ler com meus pais antes mesmo de entrar na escola, com pouco menos de quatro anos, de tanto que pentelhava os coitados pra lerem os gibis da Turma da Mônica pra mim. Comecei a “brincar de escrever” muito nova também—meu pai fez backups dos nossos primeiros computadores e lá tem uns arquivos do Word de quando eu tinha seis, sete anos. Eu achava divertido recontar as histórias que eu lia ou assistia. Daí para começar a ter ideias e querer colocar as minhas próprias maluquices no papel foi um pulo.
Acho legal dizer que meus pais, meus tios e minha prima mais velha sempre leram muito, então esse gosto foi muito natural. Ganhava livros de presente em todas as oportunidades (ficava chateada quando ganhava outra coisa, aliás), e ler por diversão sempre foi uma coisa normal, porque todo mundo ao meu redor tinha essa relação com a literatura. Meus pais e meus tios sempre gostaram de fantasia, ficção científica e terror, meus gêneros preferidos até hoje, então não tenho dúvida de que o hábito de ler e amar histórias pode muito vir de família (mas, como uma curiosidade, sou a única pessoa da família que escreve—pelo menos até o momento).

AE: Que história linda, Jana! Na administração do AE também temos fanfiqueiros que começaram nessa vida de leitura bem cedo—e bem como você disse, influência familiar é crucial. Bom, mas prosseguindo, é notório que, além de leitora ávida você também é editora. Pode nos contar pra que serve uma editora?
Vamos lá, a editora tem várias responsabilidades. Cada pessoa pode focar mais ou menos em cada uma dessas responsabilidades, o que acho que contribui um pouco para a confusão e o desconhecimento das pessoas em relação a essa função. Mas, simplificando, acho que dá pra atribuir duas funções principais à figura da editora: editar e gerenciar (a publicação).
Na primeira, a editora trabalha mais com o texto em si. Se um livro fosse um filme, ela seria a diretora. Ela pega o texto da autora e aponta quais mudanças gerais podem ser feitas naquele trabalho para que ele alcance seu potencial máximo—potencial artístico ou mercadológico, ou mais comumente os dois combinados. Mas digo que ela é a diretora porque não coloca a mão na massa. Quem mexe no texto é o próprio autor; depois, em uma etapa posterior, uma preparadora de texto vai assumir a missão de fazer com que a versão final da obra fique bem escrita. Dentro dessa competência, e no caso de editoras que trabalham em casas editoriais e revistas, ainda existe a função de curadoria. É a editora que vai ler vários materiais enviados para a casa editorial ou revista, ou mesmo ler coisas esparsas que encontra por aí e escolher quais textos serão publicados ali. No caso de casas que publicam material traduzido, a editora vai escolher o material dentre o que já foi publicado lá fora e gerenciar a publicação. Que é a segunda competência da editora.
Nessa função, a editora é tipo a mestre de obras de uma construção. Ela que vai gerenciar a equipe que vai cuidar do cronograma, do controle de custos e da execução do projeto do livro. Há equipes editoriais de tamanhos diversos, então o escopo da função da editoria em si varia muito também. Nos casos de equipes maiores, a editora vai pelo menos saber o básico de cada etapa, delegando para sua equipe a função de entrar em contato com as diferentes profissionais do processo—tradutora (se aplicável), preparadora de texto, revisora, capista, diagramadora, designer do projeto gráfico, gráfica e por aí vai. No caso de equipes menores, muitas vezes a editora faz tudo isso sozinha.
E, em algumas ocasiões, parte dessas atribuições são direcionadas para outras profissionais. O que me leva à próxima pergunta de vocês.

AE: Recentemente, entrevistamos a sra. Ana Monteiro, uma agente literária aqui de Portugal. O trabalho de um agente literário e de um editor são os mesmos? Quais as diferenças?
O trabalho da agente literária e o da editora, no nosso mercado atual, se misturam um pouco. Acho que a tendência é que um mercado mais maduro delimite cada vez mais a função dessas duas profissionais, mas em qualquer configuração elas já trabalham muito juntas. Assim como as funções da editora, as da agente podem ser divididas em dois ramos: editar e gerenciar (a autora).
Sim, usei os mesmos nomes para as funções da editora e da agente, e juro que não foi para confundir. Pelo contrário, acho que até facilita! Vamos lá: gosto de dizer que a uma das funções da agente é ser uma “pré-editora”. Geralmente ela não trabalha em uma casa editorial ou revista—e sim em uma agência, ou como profissional independente. Nessa função, ela vai servir como uma intermediária entre a autora e a editora. Tanto a função de trabalhar o texto quanto a função de fazer a curadoria de material vão ser antecipadas pela agente. Isso não significa que a editora que pegar o material vindo uma agente não vai mais mexer no texto ou ter que escolher que livros vai publicar, mas ela vai ter o trabalho um pouco simplificado. Na prática, no mundo real, é mais ou menos assim: a agente fecha contratos com autoras que tenham bons materiais. Dá uma editada primária nesse material, ajustando o texto para atingir o máximo do potencial artístico ou mercadológico dele. Aí, faz o contato com as editoras ou revistas que acha que possam gostar daquilo.
Para isso, a agante precisa ter duas coisas: experiência e contatos. Ela precisa não só saber o quê o mercado quer, mas também com quem falar para conseguir achar o melhor destino para cada tipo de texto.
Na segunda função, a de gerenciamento—dessa vez da autora, e não de uma obra específica—, a agente pode ser comparada a uma assessora. Ela vai ajudar a direcionar a carreira da autora, além de trabalhar com a parte mais burocrática da coisa. Então é a agente que vai, por exemplo, conversar com a autora e ajudá-la a escolher qual próximo projeto pode ser o melhor pra um determinado momento de carreira. E no quesito burocrático, é a agente que vai fazer o contato com as editoras e com outras entidades interessadas naquele material para fechar os melhores contratos de publicação, adaptações para outras mídias, venda de direitos em geral. Ter alguém pra ler seus contratos pode parecer bobo, mas é uma coisa superimportante.

AE: Então ambos cargos, de um jeito ou de outro, tratam direto do texto, não? Isso nos faz nos perguntar… suponhamos que você esteja polindo um texto, esse texto está cheio de problemas. Como editora, quais são os piores defeitos que um texto pode ter? 
Essa pergunta (como todas, na verdade hehe) é muito boa. Mas é mais fácil de responder do que parece, porque em vez de listar erros específicos, eu posso dizer que o que mais me incomoda é a sensação de que o texto não foi tratado com carinho. Textos que aparentemente não foram nem relidos, ou então textos que deixam evidente que a pessoa que escreveu aquele material não tem muita familiaridade com textos em geral—ou seja, que ela não costuma ler muito.
Eu acho muito importante reforçar que ninguém é obrigado a dominar todas as regras da língua—principalmente do português, uma língua tão complexa e cheia de nuances. Grandes escritoras cometem erros, grandes editoras e revisoras deixam alguns desses erros passarem. Se não fosse assim, a gente não teria tantos profissionais em um mesmo projeto—fora a própria autora, geralmente tem a editora, a preparadora de texto e, pelo menos, uma (mas geralmente duas ou três) revisoras, todas lendo o mesmo material. Porém, é importante sim tratar nosso texto com carinho e respeito. Às vezes recebo material com erros de grafia e de digitação que a própria ferramenta de revisão do processador de texto pegaria, o que na maioria das vezes me sugere que a pessoa sequer releu o próprio texto, que não passou o revisor do Word e que nem mandou o material para uma amiga (e nem estou falando de uma pessoal profissional ou experiente com texto, mas só alguém que possa fazer esse papel de olhos de águia). Todas essas coisas são simples, então a única explicação que consigo dar para alguém que negligencia essa parte do processo é que ela não liga muito para o que está apresentando para a editora. O que não é um bom sinal, né?
Também quero deixar claro que você não precisa de pré-requisitos para escrever. Se você tem uma ideia e a vontade de colocar no papel, você já é tão escritora quanto eu, quanto a Elvira Vigna, quanto o Ursula Le Guin ou quanto, sei lá, o Haruki Murakami. Mas escrita é algo que exige estudo e, acima de tudo, prática. Se você não costuma ler ou escrever muito, eu garanto que isso vai transparecer no seu texto.
Mas a solução para isso não é parar de escrever, e sim ler e escrever mais e mais e mais. É como falar outro idioma: quanto mais você usa um idioma, mais fluente fica nele, mas sempre vai ter um espacinho pra melhorar mais um pouco. Eu ia começar a dar outras dicas aqui, mas vi que tem essa pergunta mais pra frente, então vamos pra próxima.

AE: Digamos que o autor tenha todo o carinho do mundo com seu livro, e ele finalmente esteja pronto pra ir pra venda. Precisamos de leitores, né? Então na sua perspectiva, qual a melhor forma de criar uma comunidade de leitores no Brasil? Como fazer para que o seu trabalho árduo seja lido?
A primeira coisa é fazer amizades com pessoas que gostam da mesma coisa que você. Uma comunidade precisa ser isso, antes de mais nada.
Você precisa entrar em uma comunidade primariamente porque ama aquele assunto—seu trabalho ser lido vai ser uma consequência. Hoje em dia, com a internet, você pode procurar grupos e seguir contatos nas redes socais—eu sempre recomendo fazer um Twitter, porque muito do mercado literário acontece por lá—ou procurar comunidades no WhatsApp, Telegram, Discord e afins. Há grupos de pessoas que gostam ou escrever gêneros e subgêneros específicos, grupos de escritores de determinado estado ou região do país, grupos ligados a editoras, revistas clubes de leitura… tem muito espaço de discussão legal por aí.
Uma vez cercada de pessoas que amam a mesma coisa que você, a chance de criar nelas o interesse de ler o que você escreve é muito maior. Você pode começar procurando leitores beta, pessoas mais próximas—em quem você confia, em diferentes níveis de intensidade—que vão poder ler o seu trabalho antes dele ser publicado. Depois você pode publicar um material em alguma plataforma online, gratuita ou paga, e começar a falar do seu material por aí. Nessa hora, é muito importante tomar cuidado para não virar a pessoa chata que faz spam nas redes.
Uma coisa (péssima) é você mandar DM ou inbox para pessoas que você mal conhece com um texto padrão e o link do seu texto. Eu digo por experiência própria: isso é receita pronta para afastar leitoras do seu texto, e não as atrair. Outra coisa totalmente diferente é você estar comentando há meses sobre o que está escrevendo dentro da sua comunidade, provocando a curiosidade, ou então mencionar o seu texto de vez em quando em alguma conversa que tenha a ver. Isso, além de ser muito mais respeitoso e profissional, evolui naturalmente pra um espalhamento orgânico do que você escreve: uma pessoa vai se interessar pelo que você falou, vai ler, indicar pra outra, que vai fazer uma resenha num blog, que vai atrair mais leitores, e por aí vai. 

AE: Que dicas maravilhosas! Faz todo sentido crescer uma base de leitores de forma gradual assim. Bom, agora afunilando mais um pouco, pode nos dizer quais os gêneros literários estão na mira das editoras do mercado editorial brasileiro, e por quê?
Essa é uma pergunta difícil de responder, porque o mercado editorial brasileiro na verdade não é um, e sim vários. É uma junção de vários nichos, maiores ou menores, que têm suas próprias regras, comunidades e preferências. Eu mesma estou mais inserida no mercado de fantasia, ficção científica e terror, com algum conhecimento do mercado de YA (Young Adult) e mais um contato ou outro em outros nichos.
Cada nicho desse tem seus números também. Se você for ler sobre o mercado de livros eróticos vai encontrar uma situação, um panorama de vendas, de número de leituras, de rendimento. Na comunidade de livros religiosos e de não-ficção, vai encontrar outra situação completamente diferente. Vai soar meio autoajuda (que é uma outra área bem rentável do mercado literário, inclusive), mas é verdade: é mais importante você escrever o livro que você gostaria de ler do que tentar se adequar ao que determinado nicho do mercado procura. É claro que é importante saber o que o mercado procura, mas vou te falar que geralmente é mais útil você saber o que o mercado não quer do que o que ele quer. E por um motivo simples: não tem como saber o que o mercado vai querer quando seu livro for ser publicado porque isso só vai acontecer daqui muitos meses, na melhor das hipóteses, e a gente não tem bola de cristal pra saber que, sei lá, daqui um ano os livros sobre gnomos voadores estarão em alta. Mas dá facilmente pra saber o que saturou o mercado.
Para dar um exemplo da fantasia, meu nicho: a fantasia medieval, protagonizada por homens e ambientada em um cenário padrão da idade média europeia é um subgênero extremamente saturado. Você vai precisar escrever algo muito excepcionalmente genial para conseguir se destacar, e ainda assim eu tenho dúvida se há espaço para um próximo Game of Thrones, por exemplo. Isso significa que você não deva escrever fantasia medieval? Não, mas talvez sim hahaha. Acho que vale se perguntar por que você escreve determinado subgênero, e depois que entender isso, pegar os elementos que atraem você e aplicá-los na sua realidade. Você gosta do heroísmo dos cavaleiros, mas é uma garota e vive no Nordeste? Então porque não escrever sobre Quitéria, que cavalga sua égua pelo agreste lutando contra calangos voadores em vez de mais um paladino caçador de dragões de armadura brilhante e nome John?

AE: Veja só, um livro sobre uma heroína quiteriana é uma ótima ideia… quem quer que vá escrever, já tem o apoio da administração do AE hihihi. E tocando no âmbito da qualidade, na sua opinião como escritora, editora e leitora, o que faz um livro ser bom?
Engraçado, eu estava falando sobre isso esses dias. Eu estou em um momento de querer entender e melhorar minha própria produção, então ando refletindo muito sobre o que me agrada em uma história. E acho que uma questão que resume tudo é: escrever sobre o que você vive, conhece ou sente.
Esse é uma dica muito compartilhada por aí e interpretada, em geral, de uma forma que eu acho equivocada. Eu vejo muito gente falando assim “ah, eu sou homem advogado, quer dizer que não posso escrever sobre uma mulher astronauta, e só sobre homens advogados?”. E não tem nada a ver. As pessoas têm que parar de enxergar suas vivências como coisas objetivas—ser homem, ser contador, ser brasileiro, ser terráqueo—e sim pensar em grandes temas. O que você mais ama? E o que mais te faz sofrer? O que mais te causa medo? Responder a essas perguntas geralmente indica bons temas que você pode explorar de várias formas. Então você é um homem e contador, mas por algum motivo se sente muito sozinho? Uma história sobre uma pessoa que se sente sozinha—uma mulher astronauta, por exemplo—pode soar muito verdadeira na sua mão.
É claro que escrever sobre personagens parecidos com você torna tudo mais fácil. E é claro que você não pode escrever sobre qualquer personagem diferente de você sem o cuidado devido—ser homem e escrever sobre uma mulher sexualizando o corpo dela, por exemplo, é ofensivo e babaca. Ser branca e escrever sobre uma personagem negra sem considerar que há vivências muito sutis que você pode apagar ou mesmo interpretar errado pode resultar em um texto racista, desconfortável e ofensivo pra quem passa por essas vivências.
Enfim, em resumo eu acho que o bom livro é aquele que veio do coração da autora. Aquilo que eu leio e sinto que não é só uma simples junção de personagens aleatórios e conflitos fracos, e sim uma exposição de um tema que é caro a quem escreveu, que nasceu das próprias vivências dessa pessoa. E geralmente, no meu caso, isso significa livros centrados em personagens.

AE: Nossa equipe concorda plenamente! Nada supera um livro cujas personagens são humanas pois se baseiam nas experiências emocionais de quem as escreveu, e portanto as retratam de forma verossímil. Agora digamos que um ser iluminado tenha seguido todas essas dicas, mas empacou no “Fim” da última página. Depois de escrever o primeiro rascunho, quais são os passos a seguir?
Acho que a primeira coisa é reler o próprio texto com carinho. A pior coisa que você faz em qualquer circunstância é publicar ou enviar seu texto pra uma editora ou revista assim que acabou de escrevê-lo. Dá uma lida, manda pra uma amiga, deixa um tempo parado—às vezes a gente fica tão ligada num texto que fica muito difícil ter uma visão crítica dele.
Ok, passou esse tempo? Mandou o texto pra outras pessoas? Então tira um tempo pra arrumar eventuais sugestões dessas pessoas. Eu vejo muita gente mandando livro pra outras pessoas só porque quer se sentir bem ouvindo um elogio. Essa atitude gera dois problemas: primeiro a frustração quando uma crítica vem. Eu nunca li um texto, nem das minhas autoras preferidas, que eu achasse perfeito. Então não é o seu (ou o meu) texto que vai ser perfeito.
O outro problema que essa atitude gera é que seu texto não vai alcançar o potencial máximo dele. É muito legal saber pra que você pediu a opinião de outra pessoa. A melhor situação é quando você faz qualquer coisa porque quer melhorar—por melhor que você acha que o texto está.
Depois disso, os próximos passos dependem muito do seu objetivo com o texto, e com a sua carreira num geral. Dependendo do que você quiser, há um caminho melhor para seguir. Você pode publicar em plataformas de auto-publicação de leitura gratuita (Wattpad e afins), de compra de e-book (Amazon e afins), pode mandar pra editoras, pra revistas, pra agentes. A única coisa que eu não recomendo é pagar pra publicar.
Eu poderia me estender muito aqui e acho que não é o foco, mas, em geral, as editoras que cobram do autor são só máquinas de fazer dinheiro. Entre a) pagar milhares de reais pra uma editora imprimir livros com o seu texto de qualquer jeito e depois deixar os estoques mofando nos saldões das bienais e b) publicar digitalmente em uma plataforma de auto-publicação, a opção b) vai ser sempre melhor. Acredite em mim, por mais deslumbrada que você esteja com a possibilidade de pegar seu livro em mãos.

AE: Falando em plataformas de auto-publicação, nós aqui descobrimos o nosso amor pela escrita através de sites como Wattpad, Spirit Fanfiction e outros. Você acredita que um livro que já foi publicado assim pode prejudicar a obra do escritor na hora de ser selecionada por alguma editora?
Não, pelo contrário! Geralmente, essas plataformas são ótimas pra conseguir público e críticas do seu texto—o que são sempre coisas boas, que podem ser muito bem aproveitadas. Eu vejo uma situação intermediária com a qual você precisa tomar cuidado e uma bem específica em que a publicação pode ser prejudicial, apenas, e vou falar mais sobre elas.
A primeira é quando você publica algo muito, mas muito mal acabado. Sabe quando falei sobre o texto que tem erros básicos que até o revisor ia pegar? Então. Eu digo que essa situação é intermediária porque você sempre pode melhorar o seu texto, e essas plataformas são inclusive espaços muito conhecidos justamente pra você exercitar sua escrita. Então sei lá, sua história foi muito bem recebida na plataforma, mas tem muitos erros e problemas—até porque você publicou há muito tempo e evoluiu desde então? Trabalhe esse material e envie pra uma editora. Ele estar em uma versão preliminar na plataforma, não vai ser problema; a sua evolução vai ser visível, e a parte de ter feito sucesso entre os leitores vai ser sempre uma vantagem. O que não recomendo é pegar seu texto publicado há um tempão, mal revisado, e mandar assim mesmo pra uma editora. Como eu disse, a gente sempre melhora, então sempre dá pra ir um pouquinho além e tentar melhorar nossas chances.
Agora, a segunda situação é aquela em que seu texto tem algum conceito muito errado. Algo ofensivo pra alguma comunidade, um texto preconceituoso ou irresponsável em alguma questão polêmica (como, por exemplo, suicídio, pra citar um de que se fala pouco). Esse é um caso extremo porque eu recomendaria fortemente você revisar os seus conceitos sobre a sociedade como um todo e não só sua escrita. Agora se foi algo que você escreveu e de que se arrepende (o que pode muito acontecer, principalmente se você publicou um texto muito nova, por exemplo), é só tirar esse material da plataforma e não cometer mais esse erro. E acho importante reforçar, nesse ponto, que quem decide se algo é ofensivo ou não é a comunidade ofendida, e não você. Você não tinha a intenção de ser preconceituosa? Que ótimo, é sinal de que você quer melhorar e que o preconceito é algo enraizado e não algo que você pretende manter, então aceite a crítica e retire o material ou o elemento problemático. Tentar se justificar dizendo que não era sua intenção só piora tudo.

AE: Quais dicas você daria para os jovens escritores que querem se destacar e posteriormente serem publicados?
Olha, acho que as perguntas— muito boas!—conduziram tão bem o papo que eu passei por quase todas as dicas que tenho para escritoras que estão começando. Mas acho que quero reforçar uma questão, que é: leia outras autoras brasileiras, de todos os tipos. Que escrevem o mesmo tipo de texto que você ou não. Antigas ou contemporâneas. Superexperientes e premiadas ou iniciantes. Auto-publicadas, publicadas por editoras, publicadas em revistas. Aliás, leia a Trasgo, a Mafagafo e outras revistas brasileiras, porque ler contos é uma ótima forma de conhecer pessoas novas.
(E uma observação final: caso você tenha ficado intrigada com o uso do gênero feminino, é só uma coisa que faço de vez em quando em textos de não ficção, para subverter o que a gente chama de “masculino generalista”—que é aquilo de falar “autor” e entender que significa “autor”, “autora” e “autore”. Por que não usar o feminino generalista pra mudar um pouco? Quem vi fazer isso primeiro foi o Rodrigo van Kampen, editora da Trasgo. Mas é claro que estou falando com pessoas de todos os gêneros ao longo do texto inteiro!)

A equipe do AE não pode agradecer o suficiente pela sua visita a nosso blog, Jana. Sua entrevista foi estupenda e iluminadora, e não só os administradores aprenderam muito como, temos certeza, os leitores do blog apreciaram profundamente.
Queremos agradecer pela animação e boa vontade, e por ceder seu tempo a nós. Desejamos tudo de bom para o Curta Ficção, a Mafagafo e todos os seus projetos pessoais e profissionais, e queremos que saiba que será sempre querida no Anotações Esparsas!

*

Gente, foi um surto geral editar essa entrevista. Todos os créditos de puxar as mulheres incríveis que a Jana e a Ana, do post anterior, são, pro blog, vão pro adm Carlos. Formatar e poder hostear essa entrevista foi… whoa. Eu tô só aquele meme que é um passarinho gritando um monte de “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA”, tá ligado? Pois então.
É O Marco poder dizer que a Jana Bianchi esteve no AE, e confirmamos o que todo mundo já sabe: ela é incrível, adorável, inspiradora, simpática, etc. A gente ama ela, okay? Okay.
(#NesseBlogNósStaneamosJanaBianchi será nossa nova tagline daqui pra frente.)
Surtos à parte, as primeiras entrevistas do blog acabam por aqui. Foram quatro episódios; sendo os quatro primeiros, EPs #1, #2, #3 e #4 participantes da minissérie Ficdom Na Minha Estante!, e o penúltimo com a agente literária portuguesa Ana Monteiro. Fechamos esse ciclo com a maravilhosa da Jana Bianchi, cujas informações estão no início do post.
Ana e Jana, com todo carinho do mundo, vieram partilhar um pouco sobre a visão profissional dos livros—para quem quer que tenha lido os posts sobre fanfics tendo cópias físicas e também tenham pensado naqueles originais engavetados, esperando por uma segunda chance… contudo, apesar disso elas deram dicas valiosas que se aplicam ao ficdom também, com uma ou outra modificação, então todo mundo sai ganhando! Yay!
Foi uma experiência inenarrável para nós três aqui do AE, mesmo com os eventuais soluços. Certamente traremos mais entrevistas pro blog no futuro, mas por hora esperamos que essas seis tenham agradado suficientemente vocês! Vou ficando por aqui para não estender ainda mais essa conclusão hihihi. Para mais posts com essa mesma qualidade, não se esqueçam de inscrever-se por e-mail no blog e seguir-nos no Twitter e IG. Até o próximo olá!

E você? Já conhecia Jana Bianchi? Aproveite os comentários pra enaltecer essa lenda!

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