Como Cuidar Melhor do Seu Leitor

Imagem retangular de fundo roxo e ornamento oval no centro, enfeitando o título que lê: "Como cuidar melhor do seu leitor".

Boo é autora da fanfic Burnout (Wattpad/Nyah! Fanfiction), entre tantas outras obras. Fã de animes e cartoons, fanfica nos fandoms de Naruto, As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy, e Phineas e Ferb. Pode ser encontrada no Instagram e Twitter sob o nome de usuário @boothewritter, assim como no Nyah! Fanfiction, Social Spirit e Wattpad.
Hoje ela é convidada especial do Anotações Esparsas, nos agraciando com um artigo sobre o ficdom, focando nos ficwriters. Todos os direitos reservados.

Semana passada (7 de janeiro) tivemos o dia do leitor e uma reflexão me surgiu sobre o assunto: tratamos nossos leitores como deveríamos?
Sabemos o quanto é difícil conquistá-los e o quanto são importantes. Afinal, são eles o público do que fazemos, são os consumidores finais, nosso objetivo a ser alcançado, o sentido de nossa ação.
Mesmo assim, nem sempre retornamos a eles um tratamento digno de seu valor. E quase nunca paramos para pensar nisso na correria do dia a dia que nos força a olhar muito para nossos próprios umbigos.
Pensamos apenas em postar nossa história, obter o merecido retorno e seguir com nossas vidinhas, mas existe muita coisa envolvida antes, durante e depois desse processo.
Inclusive e principalmente, depois que sai de nossas mãos.
Observando o assunto, por um tempo, dos dois lados, consegui a seguinte lista do que te recomendo que faça agora mesmo.


Saiba quem seu leitor é

Um erro clássico de muitos ficwritters do qual quase ninguém fala a respeito, é não conhecer quem seu potencial leitor realmente é. Em livre tradução: achar que está disputando as visualizações de todos os usuários da plataforma de auto publicação que utiliza.
Pense comigo, o mundo é vasto, as pessoas são plurais, complexas e cheias de individualidade. Você é assim. Você não lê todos os gêneros existentes na literatura, você não é ativo em todos os fandoms do momento, não assiste qualquer tipo de filme. Você nem come qualquer tipo de coisa.
Nem você, nem ninguém, gosta de absolutamente todas as opções do mundo.
Não suponha que só por alguém ter um perfil na plataforma, também ser um ficwritter ou até mesmo ser do mesmo fandom que você, essa pessoa é um possível leitor da sua história. Você não consome todas as opções de uma loja só por estar ali.
Mas é claro que mesmo com tanta diversidade entre as pessoas, sempre vamos achar aqueles que têm algo em comum. E gostamos muito de nos reunir em grupo e nos sentirmos reconhecidos e representados dessa forma.
Os seus leitores são um grupo assim. Saiba o que une essas pessoas que se atraem pelo seu conteúdo. Tenha o perfil delas bem gravado na sua mente.
Isso é não só uma forma de melhorar sua relação com eles, como também de tornar as chances de engajar seu conteúdo mais assertivas. Afinal, é mais fácil acertar mirando um único alvo parado do que atirando a esmo, de olhos fechados, em várias pessoas se movendo para longe de você.
É menos trabalho e dor de cabeça para você saber precisamente com o que vale a pena despender tempo nas suas estratégias. E seus leitores vão perceber o seu cuidado, o quanto você os enxerga de uma maneira próxima, exclusiva e se preocupa.
Vai por mim, todo mundo gosta de se sentir especial.


Tome cuidado com sua postura online

Hoje em dia quase não existe mais o autor anônimo, solitário e escondido numa cabana digna de filme de terror cujo pseudônimo é eficaz em mantê-lo inalcançável para seus leitores.
A internet lançou um holofote sobre todos nós e acabamos por nos habituar e naturalizar isso. Acabamos gostando porque isso nos trouxe acesso fácil e rápido a informações e interações que nunca teríamos antes disso.
Hoje em dia não é nenhum bicho de sete cabeças bancar o CSI e achar alguém numa rede social. Ou seja, mesmo querendo se esconder dos seus leitores, pode ser que eles te achem.
Mas muitos de nós tem pelo menos um perfil “fake”, no mínimo longe da família, para falar sobre isso, interagir com nossos companheiros de jornada e fazer divulgações — quem não tem devia considerar ter, ajuda muito.
Por experiência própria eu sei bem como funciona isso. Não demora até a liberdade de um ambiente “semi-anônimo” e não presencial te tomar e tudo parecer um grande quintal de amigos, uma festa animada e você vai encontrar as subdivisões do seu grupo inicial de ficwritter.
Acompanha comigo: você é um ficwritter. Dentro desse grupo tem o subgrupo dos seus fandoms. Dentro desse subgrupo, tem a subdivisão dos seus ships. Dentro dessas subdivisões existem as ramificações dos headcanons sobre eles.
E podemos seguir esse fluxo o dia todo. Passamos uma grande peneira até chegarmos onde estamos.
No meio dessas peneiras vamos pegando intimidade e construindo relações que podem se tornar realmente fortes. Se você ainda se lembra dos recreios da sua infância, já deve ter enxergado o potencial complicado disso.
É que num posicionamento de autor em rede social, você pode até estar falando com seus chegados, mas não está falando com eles.
Então não se esqueça de prestar atenção a voz que você utiliza nessa comunicação. Olhe seus perfis de fora um pouco, até vale perguntar a opinião de um amigo de confiança. Analise as impressões que você passa e compare com as que você quer ou precisa passar.
Você almeja uma voz gentil e acolhedora, mas soa radical? Você almeja uma voz divertida, mas soa sério? Dedique um tempo sobre isso.
Não estamos dizendo para finja ser outra pessoa, mas redes sociais são em geral, recortes da nossa vida. Você não precisa mostrar absolutamente todos. Todos não são úteis.
E é claro, máximo cuidado para não se envolver em polêmicas desnecessárias, hates vazios, brigas e implicâncias entre fandoms e squads, discussões políticas, posicionamentos preconceituosos e afins. Isso pode manchar sua imagem, às vezes de forma irreversível.
Acredite em mim, não importa o quanto você pense que está certo na hora ou esteja com raiva de alguém ou alguma coisa. Não vale a pena a consequência que isso traz.


Não firme demais o pé no seu ponto, saiba lidar com críticas construtivas

Bom, essa aqui vai exigir que em primeiro lugar, você saiba diferenciar uma crítica cuja consideração vale a pena e um hater com seu discurso de ódio vazio.
A crítica construtiva geralmente tem um ponto específico bem definido. Ela não é vaga e não se embasa em preconceitos ou ofensas pessoais descabidas. A crítica construtiva quase nunca aborda aspectos pessoais seus, na verdade.
Ela costuma vir acompanhada da opinião do leitor sobre sua experiência com a história e aponta uma direção onde o trabalho pode melhorar.
Não debata com esse leitor tentando defender seus motivos de ter feito assim ou assado a qualquer custo, querendo enfiar seu ponto de vista na goela dele.
Mantenha a mente aberta, acolha essa crítica. Agradeça por essa pessoa ter se dado ao trabalho de dedicar um tempo para comentar sua história. Você recebeu um comentário! Um dos maiores presentes de um fanfiqueiro, o motivo de ficarmos atualizando o app de cinco em cinco segundo depois de postar o capítulo.
Isso é motivo para ficar feliz, você não quer viver só de “amei, continua”, vamos combinar, né.
Se permitir crescer com as reviews é como nos tornamos escritores melhores. Até mesmo pessoas melhores.
Analise as críticas. O que elas dizem? De quem vêm? Com que incidência se repetem? Se ponha no lugar do leitor.
Não vale a pena fazer nada que deixe a vida do leitor mais difícil. Veja o que pode fazer para melhorar, sempre.


Não deixe o leitor falando sozinho

Essa é quase autoexplicativa. A maioria dos ficwritters é leitor também, todos odiamos tirar um tempo para comentar e nunca ser respondido.
Imagine que você se esforçou para dar uma desacelerada na sua correria diária e se dedicou a confeccionar um presente para alguém que o ignorou completamente. Ou que tem idealizada toda uma admiração pelo trabalho de alguém, acompanhou e apoiou em tudo que podia, mas quando pôde te retornar isso, seu admirado se colocou frio e distante.
É claro que não estamos dizendo para tirar horas do seu dia, esquecer todas as suas tarefas e lazeres; e passar 24h apenas conversando com cada leitor sobre o dia a dia deles. Isso é obviamente impraticável.
Mas separar um dia da semana ou do mês — dependendo da sua frequência de postagens — é super possível.
Manter uma comunicação com seus leitores faz com que se sintam mais próximos de você. Tendemos a retribuir mais a quem nos faz se sentir importantes, queridos, especiais. Tendemos a ser mais compreensivos também.
E uma hora ou outra, você vai precisar da compreensão deles. Não tem como fugir disso. Ninguém é tão autossuficiente.
Uma dica é, por exemplo, usar as formas de comunicação rápida e coletiva que suas plataformas escolhidas oferecem — como os jornais do Spirit e o campo de “conversas” do Wattpad onde você pode escrever uma mensagem que aparece como uma notificação aos seus seguidores — para informar sobre um possível atraso, justificar alguma demora e até agradecer pelos comentários, naqueles dias em que você estiver sem tempo para as pequenas atenções individuais aos seus leitores.


Se divulgue com respeito

Não mendigue, não implore, não faça spam, não faça chantagem de nenhum tipo, não diminua a inteligência do leitor. Nada de clickbait. Não tenha preguiça. Se importe em deixá-lo interessado. Se pergunte se aquilo interessaria você.
A divulgação é efetiva se chegar num momento propício, de modo não invasivo e prover uma amostra ou chamada de conteúdo capaz de despertar real interesse no seu prospecto leitor.
Por isso falamos, acima, sobre a necessidade de conhecer quem seu público é. Você precisa saber como ele prefere ver divulgações, onde e o que o incomoda. Com o que ele se interessa? A que tipo de linguagem responde?
Mais uma vez, não adianta atirar para todo lado, nem aparecer do nada no inbox do leitor como quem tenta vender o cartão de crédito da sua loja. Não adianta pedir por favor, nem achar que todos os seus amigos são obrigados a ler e divulgar sua história.
No final, é como um namoro. O leitor só é seu se conquistá-lo. E só somos conquistados por quem de alguma forma consegue nos deixar verdadeiramente interessados.


Não só peça algo, ofereça mais

São tempos de muita correria a nossa realidade. E de muita oferta também.
São tantas tarefas no dia a dia, são tantas formas de entretenimento competindo nossa atenção, as notícias e novidades agora disparam tão rápido que é até difícil acompanhar.
Por mais paixão, carinho e cuidado que tenhamos a nossa história, por mais incrível e merecedora de sucesso ela seja, precisamos entender que estamos pedindo ao leitor que pare tudo isso por ela.
Tempo se tornou o bem mais precioso de todos nós, um instante vale muito. Logo, as pessoas só vão dar isso a você se sentirem que não estão perdendo nada com isso. Pelo contrário.
Faça o seu leitor se sentir recompensado ao longo da experiência da forma que puder, sempre que possível, com algo que importe para ele.


Pense neles com carinho

Seus leitores vão muito além de números sem alma que você espera ver multiplicar nas plataformas.
São pessoas como você. Ninguém gosta de ser só estatística. Você não escreve para números, escreve para pessoas com sentimentos, desejos, sonhos, problemas e vidas inteiras na bagagem.
Sempre lembre disso. Não se permita vê-los despersonalizados. Isso deixa as coisas frias e é aí que a magia começa a morrer.
Veja seu time com carinho e cuide dele.

*
 
Mais do que uma simples consequência do ato de escrever, os leitores são um presente fruto de uma conquista da sua arte e podem ser o relacionamento mais bonito da vida do autor que puser dedicação nisso.
Mais do que posts com imagens bonitas em 7 de janeiro, que cuidemos bem de nossos leitores e possamos reconhecer o seu valor o ano inteiro.
Meus sinceros agradecimentos a Mira e ao Carlos pelo convite. Foi uma honra e uma experiência incrível pisar no AE. Espero os dois no Feitos de Palavras assim que for lançado.
Compartilhe esse texto com seus companheiros escritores e bora todo mundo aprender a mimar seus leitores. Foi um prazer, e até quem sabe.

Os textos publicados no Anotações Esparsas são de total autoria dos administradores e colunistas. O artigo atual pertence inteiramente à Boo, que hoje pode ser encontrada no website Feita de Palavras. É proibida a reprodução sem permissão, parcial ou completa, do conteúdo.

E aí, o que achou do post de hoje? Como é seu relacionamento com seus leitores? Tem alguma história especial sobre isso? Já fez um grande amigo que começou como leitor?

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